Por: Alexandre Mendes
Quando completei quinze anos, minha mãe conseguiu arrumar um emprego para mim, em uma concessionária. O cargo era de Auxiliar de Oficina.
O trabalho consistia no transporte das peças de automóveis, do estoque para os setores de oficina, lanternagem e pintura. Adélio era o vendedor interno, isto é, aquele que requisita a peça para o conserto do automóvel, em uma Ordem de Serviço. Ele era o encarregado do meu serviço. Requisitava as peças, enquanto eu as transportava.
Aprendi com o tempo o serviço de vendedor interno, mas confesso que decorar a numeração das peças, que não param de ser inventadas, é bem difícil.
Fato curioso era o ritual de iniciação que os mecânicos, pintores e lanterneiros do estabelecimento impunham aos novatos.
Jorjão, o chefe da lanternagem (que ficava no quarto andar) havia me pedido que buscasse no estoque (Primeiro andar), uma chave de desempenar “para-brisa”. E lá fui eu, pedir a tal chave no estoque. O estoquista riu e me deu uma caixa enorme com um cabeçote de motor, amarrado em um carrinho de duas rodas. Sai puxando aquela peça enorme pela rampa, até o quarto andar, sem saber que estavam me sacaneando.
Quando cheguei lá, Jorjão disse que aquela era a chave errada. Desci, então, com aquele peso, feito um babaca. Esse tipo de sacanagem era comum naquele serviço. Colocávamos bigode de pasta de dente, em quem descansava do almoço e água de bateria nos assentos da oficina. Quando o camarada sentia a ardência na bunda, a calça já estava furada.
Áreas de trabalho espaçosas e com grande contingente de empregados, como canteiros de obra e oficinas daquele porte, lembram uma cadeia. Não podia esquecer nada fora do armário, senão sumia.
De vez em quando auxiliava os mecânicos e acabei aprendendo a fazer as primeiras revisões dos carros (Troca de filtro de óleo, de filtro de ar etc.).
Foi também, com os mesmos mecânicos que aprendi a beber cachaça no boteco, durante a hora do almoço...
Fiquei naquele batente, por um ano e dois meses. Aos dezesseis anos, fui mandado embora do tal serviço. Foi aí, então, que minha mãe me arrumou outro serviço, como Auxiliar de Estoquista, em uma concessionária de automóveis, em São Gonçalo.
Trabalhei em uma oficina onde um filho da puta que tinha lá infernizava minha vida. Um dia ele mandou eu buscar uma chave de desempenar disco na outra oficina que ficava no final da rua. Desci a rua e pedi a chave. Tinham dois trilhos de trem: Um de tamanho mediano e um enorme. O gente boa mandou eu pegar o menor e levar. Aquela rua nunca ficou tão grande. O Sol quente na cabeça e aquele peso do caralho esfolando meu ombro. Quando voltei a oficina e coloquei com todo o cuidado a "chave" do chão, o cara me olhou sério e disse: "Não é essa não, porra. É a maior". Voltei com o trilho nas costas, pagando minha penitência. O gente boa da oficina do final da rua riu e me falou que aquilo era sacanagem. "Disco não se desempena". E isso foi apenas uma das muitas. No meu primeiro dia, deu a hora de ir embora e o dono da oficina estava dormindo em um fusquinha que tava lá. Esse mesmo cara da primeira história falou que eu tinha de ir falar com o dono que eu estava indo. Descobri que o dono detestava ser acordado.
ResponderExcluirÉ dose... Depois vai a forra no próximo novato...
ResponderExcluirSr. Alexandre, não esqueça do tal do "Pintinho" funcionário do qual vc chegava em casa falando sempre. Deve ter alguma história engraçada ou interessante com ele tambem.
ResponderExcluirTá vendo?!?! Eu não esqueço, viu?
Abração
Sr. Ricardo
Pintinho, não! Piu-piu, eletricista!
ResponderExcluirPinta de funkeiro do cabelo de Neutrox.
Uma vez, tacou álcool no meu uniforme, quando eu estava distraído. Corri pra caralho, quando ele acendeu o fósforo. Daí, metia pimenta na quentinha dele, toda vez que se distraia em troca...
Eu nunca falei nada sobre pintinho! Nem hoje, nem ontem! heheheheheheh... NUNCA!