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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Memórias de um operário VII





Por: Alexandre Mendes



Era sexta feira, o último dia de trabalho da semana. Normalmente, as obras davam o fim de semana inteiro de folga. Trabalhava acelerado, pois queria acabar a tarefa até às quatro da tarde. Almejava pegar o pagamento da semana e fazer algumas compras, no supermercado.

Após muito suor e correria, consegui concluir meu trabalho e recebi a merreca da semana. Tomei banho, me arrumei, e peguei o ônibus para Niterói, na intenção de passar no mercado.

Comprei tudo que estava escrito no bilhete, feito por minha esposa, antes de eu sair para o trampo. Deu umas quatro sacolas de compras. O dinheiro que sobrou era pouco, mas poderia ser necessário gastá-lo, durante o fim de semana.
Caminhei até o Terminal Norte, carregando minha mochila cheia nas costas (roupa de trabalho, marmita vazia etc), e as sacolas de compras nas mãos. Me sentia muito cansado. Ainda teria que esperar na fila do ônibus e viajar por, aproximadamente, uma hora até chegar em casa.
Fiquei de saco cheio de esperar na fila e peguei o ônibus 538, “Jockey”, que já saia do Terminal lotado. Passei na roleta e, com dificuldade, me acomodei na parte central do corredor.
Um rapaz, que estava sentado no banco a minha frente, ofereceu o espaço entre as suas pernas e o banco dianteiro, para que eu repousasse as minhas sacolas. Consenti. Confiei as minhas compras ao rapaz e me desliguei da vida. O tempo de viagem era longo e tortuoso, pelas curvas fechadas da Avenida Amaral Peixoto.
Pensava no almoço de amanhã, quando me liguei que o ônibus já estava parado, no ponto em que eu tinha que descer. Disparei em direção a porta de saída e desci do ônibus.
O coletivo saiu do ponto e foi, então, que me lembrei das compras, deixadas com o rapaz sentado. Saí correndo atrás do ônibus, na esperança de ver o cara, pelo menos, descendo do ônibus. Corri até o ponto final e não o achei.
Regressava para a estrada, triste e cabisbaixo, quando dei conta de que ocorrera algo pior: minha carteira tinha caído do bolso de trás da bermuda, enquanto eu corria atrás das compras.
Comecei a suar de nervoso. Sem compras. Sem dinheiro.
- Ô! Você deixou cair a carteira! – Bradava um camarada, do outro lado da pista, em frente ao ponto, no qual eu havia descido do ônibus.
Atravessei a pista, me sentindo mais tranquilo. “Pelo menos, tenho o resto do pagamento.” – Pensei. No entanto, quando abri a carteira, não tinha mais um tostão dentro.

- Ué! Não foi você que achou? – Perguntei ao camarada, desconfiado.

- Não! Eu peguei depois que um cara já tinha mexido. – Disse o sujeito.

Fui embora, desesperado. Fui obrigado a pedir fiado na mercearia da esquina e só paguei as compras na sexta feira, seguinte.

Sem dúvida alguma, esse foi um dos episódios mais terríveis.


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